segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Calvino e o chamado

Um cidadão qualquer, A, digamos, num anoitecer qualquer, em que sombras tímidas se escondem sob os pés dos transeuntes..., pois bem: esse cidadão tal chama por Teresa, mirando os últimos andares de um edifício antigo. Um passante, nomeemos a este B, se junta ao primeiro em seu apelo, ajuda anônima, simpática.

Em alguns minutos, há uma pequena multidão (C, D, E...) de solidários a bradar, a plenos pulmões, em variações polifônicas, tonais, modais, atonais, polirritmicas  o nome de Teresa. Só então descobre-se que o primeiro homem não sabe sequer onde está, ou conhece ali qualquer Teresa. Chamava por chamar... Algum tipo de brincadeira?!!, inquirem contrariadas as pessoas ali reunidas. De forma alguma!, responde A, quase ofendido. O grupo tenta, já sem motivação, uma última vez, chamar Teresa e o grupo se dispersa.

Teresa é o único personagem de fato nomeado no pequeno conto de Calvino (esqueça que eu nomeei os outros personagens A, B, C..., Calvino não o faz). Apenas Teresa é nomeada e sua existência é a mais problemática de todas.

Bom, concluo do pequeno conto que quem chama ou escreve há de estar necessariamente chamando Teresa. E que isso mereça fé é toda a questão.

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