domingo, 24 de fevereiro de 2019

Manjericão (mil novecentos e bolinha)

Vesti meu hálito de manjericão como quem colocasse sobre si um fato - não houvesse métrica ou rima para cuidar nessa vida. Vesti-o, e com ele povoei a língua de seres que se mexem sonsos sob o solo e a fala, para contar-te estórias sem esqueleto, causos que verdejaram em teu ouvido por um século. E mais um pouco... Vesti-o para sussurrar coisas inconfessáveis e moles sobre a tua pele de leite e de baunilha. Versos brancos que entorpecem, mas que não deixam dormir. Palavras escorregadias oscilando pelas tuas costas como gotas. Vesti esse hálito-hábito pensando em tua bunda de negra, em como abririas para mim cavernas submersas em algas e vertigem. Sabendo que minha boca, dentes e saliva encontrariam o caminho de teu ventre, peitos de menina e os lábios de língua áspera. E já seria em ti, inteiro, como um caramujo em sua casca. E nada mais diria de folhas, de pequenos vermes ou de bichos minúsculos inteiramente mergulhados no que é seu
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